Uma escolha difícil: crença do paciente ou obrigação moral da profissão?

O que você faria se fosse um médico com uma paciente que, em razão de sua crença, não permitisse transfusão de sangue? Confira esse dilema profissional!

Julia Monsores | 9 de Outubro de 2019 às 11:00

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O que você faria se fosse um(a) médico(a) com uma paciente que, em razão de sua crença, não permitisse transfusão de sangue? Confira esse dilema profissional!

Ela entrou, jovem em seus quarenta e poucos anos. Tinha um tumor no pulmão. Mesmo assim, estava calma. A mesa do médico reflete seu poder. Mas, quando a paciente disse “sangue não, sou Testemunha de Jeová”, a balança do poder se desequilibrou. Sua crenças era tão forte quanto minhas convicções sobre a importância da cirurgia. 

Expliquei que seu nódulo no pulmão talvez exigisse a remoção de metade do órgão. Ela concordou: “Mas sem transfusões”. 

Ela também não permitiria que eu estocasse o próprio sangue. Eu nunca havia feito uma transfusão naquele tipo de procedimento. Porém, sempre reservava o sangue. Mas eu era jovem, ousado, é claro que conseguiria. 

“Minha obrigação era com a moral da profissão – salvar vidas – ou com as crenças da paciente?”

E se ele tivesse uma hemorragia durante a operação? Eu poderia manter minha promessa? Minha obrigação era com a moral da profissão – salvar vidas – ou com as crenças da paciente? Como seria sua vida se eu removesse o câncer, mas fizesse a transfusão?

Finalmente, resolvi ir em frente. Durante a cirurgia, uma artéria se rompeu, jorrando sangue. Não muito, mas naquelas circunstâncias, um tsunami. Meu dedo fechou o orifício. Coloquei uma pinça e continuei. Sentia-me como um piloto que perdeu um motor mas conseguiu aterrisar. A possibilidade de morte esteve presente. Ainda me arrepio só de pensar. Respirei. Meu assistente parou de suar e o anestesista se sentou. Estava tudo bem. Sentimos como se os três precisássemos da transfusão. O restante da operação foi normal. 

Nós cirurgiões temos medicina, tecnologia e instrumentos avançados. Somos competentes. No entanto, os pacientes continuam a nos testar, a desafiar nossas decisões e habilidades. 

Dr. Larry Zaroff