Eu vou honrar a vida do meu pai

Eu vou honrar meu pai onde quer que seja. Essa frase é um pouco similar à frase que a Mulan diz no filme para os combatentes da China. Ou pro general,

Marina Estevão | 8 de Agosto de 2020 às 10:00

Vasyl Dolmatov/iStock -

Eu vou honrar meu pai onde quer que seja.

Essa frase é um pouco similar à frase que a Mulan diz no filme para os combatentes da China. Ou pro general, agora não me lembro.

Meu pai chora muito com esse filme, e eu também.

Meu pai é pai em dose dupla, após 22 anos.

Sei que esse nome parece título de filme da Sessão da Tarde, mas é real.

Meu pai nasceu nos anos 60, e eu nasci quando ele tinha 30 anos.

Quando eu era criança, meu pai trabalhava em Búzios de madrugada.

Como ele saía alguns dias umas 22h pra ir pra Búzios e passar a noite toda trabalhando, quando eu ia dormir ele dizia que quando eu acordasse, ele já estaria em casa.

Ele era um pai sarado que brincava na praia comigo e com meus amigos.

Jogava todos os esportes possíveis. Bebendo cerveja.

Ele usava chinelo, quando usava sapato, porque às vezes voltando da praia ele me buscava na escola descalço mesmo.

Eu fiz muitas festas de Dia dos Pais na escola.

Ele me levou de vespa pra fazer minha matrícula na faculdade.

Na volta, a vespa enguiçou.

E ele saiu correndo com a moto no meio da Av. Epitácio Pessoa pra pegar no tranco novamente.

Quando viajamos pra Natal, fomos ver golfinhos no fim de tarde.

O barco também enguiçou – Pode-se reparar que temos boas histórias com “enguiços”.

Então, meu Super Pai entoou “vamos nadar até a costa pra pedir socorro?”

Eu o visualizei com uma capa vermelha voando sobre o mar até a praia.

Mas só não fomos porque o dono do barco e o outro casal que estava conosco suplicou para ficarmos.

A sorte é que o celular pegava.

Eu tinha 15 anos.

Então, 22 anos depois, minha irmã nasceu.

Hoje, meu pai usa sapatênis, cabelo rente ao couro cabeludo.

Vai à Festa da Família na escola dela.

Já mudou de profissão ao menos duas ou três vezes.

Meu pai é uma carta coringa do baralho.

Os tempos mudaram, mas ele continua a mesma pessoa. Bebendo cerveja.

Ele se adapta a qualquer situação.

Pra ele tá tudo bem, tá tudo bom.

E ele é grato pela vida independentemente de qualquer coisa.

Eu aprendi a ser assim também.

Porque eu admiro ele como ninguém.

Eu vou honrar meu pai onde quer que seja, porque eu sou como ele.

E com o passar do tempo, eu posso ser pra minha irmã o que ele foi pra mim.

Só não vou usar sapatênis.