Entenda o que é a cirurgia de enxaqueca e para que ela serve 

A cirurgia da enxaqueca pode ser uma solução para aliviar os sintomas que atormentam cerca de 2 milhões de brasileiros.

Redação | 6 de Julho de 2022 às 12:00

dragana991/iStock -

A cirurgia da enxaqueca pode ser uma solução para alívio dos sintomas que atormentam cerca de 2 milhões de brasileiros. A enxaqueca é um dos tipos de dores de cabeça mais comuns e incapacitantes.Além da dor latejante, entre os sintomas mais comuns estão a náusea, vômitos, sensibilidade ao som e à luz. 

As dores de cabeça da enxaqueca atingem áreas específicas: olhos, pescoço, fronte ou têmporas. Classicamente as dores são pulsáteis e de moderadas a intensas. É muito comum que as pessoas identifiquem gatilhos para as dores, e evitá-los pode ser uma alternativa para impedir as crises.

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Os gatilhos para a enxaqueca podem ser alterações hormonais, alguns alimentos e bebidas, estresse e, até mesmo, alguns exercícios físicos. Como não há cura, as dores são aliviadas com alguns tratamentos específicos, dentre eles está a cirurgia de enxaqueca. 

Como essa cirurgia ainda não é muito comum no Brasil, conversamos com o Dr. Paolo Rubez para entender melhor como funciona a cirurgia de enxaqueca. Ele é o responsável por trazer a cirurgia para o país, além de ser membro da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica e da Sociedade de Cirurgia de Enxaqueca (EUA).

Quais são as fases da enxaqueca? 

A enxaqueca é composta por quatro fases: pródromo, aura, cefaleia e pósdromo. Elas ocorrem antes, durante e após os episódios de enxaqueca.

pródromo pode acontecer horas ou dias antes da dor. Nesta fase, há alguns sinais como constipação, rigidez no pescoço, alteração de humor e outros. 

A segunda fase, a aura, pode acontecer entre 60 e 20 minutos antes da dor. Nela, você pode ter dificuldades de comunicação, sensibilidade ao toque, visão turva, entre outros sintomas. Ela é presente em uma minoria de pacientes.

Na cefaleia, o ponto alto da enxaqueca, é quando as dores realmente chegam. É nela que a dor pode variar de intensidade entre moderada e forte, além de ser latejante e em uma parte específica da cabeça. Uma crise pode durar entre 4 e 72 horas. 

A enxaqueca é caracterizada por dores latentes, em diferentes regiões, dentre elas, os olhos (Imagem: Prostock-Studio/iStock)

Enquanto o pósdromo, que também é conhecido como ressaca da enxaqueca, é marcado pelo alívio da dor, mas ainda pode causar cansaço e desconfortos. “Essa é uma fase distinta da crise de enxaqueca e que deixa os pacientes ainda sensívies, cansados e até confusos”, explica o Dr. Paolo Rubez. “Os pacientes relatam que suas cabeças parecem ocas ou sentem que estão de ressaca e nem sequer beberam.”

Um estudo publicado pela revista Neurology, em 2019, conta que esses sintomas estão em 80% das crises de enxaqueca. Ainda segundo o estudo, o pósdromo pode durar entre um e dois dias. Os pacientes relatam problemas como uma ‘névoa’ persistente com sensação de enjoo e exaustão.

“Como acredita-se que a enxaqueca aja como uma espécie de tempestade elétrica ativando neurônios no cérebro, é possível que a ressaca da enxaqueca resulte de alguns circuitos estarem “esgotados” eletricamente ou neuroquimicamente”, diz o médico.

Como a cirurgia da enxaqueca ajuda a reduzir as dores

De acordo com o estudo recente da Annals Of Surgery, a cirurgia da enxaqueca é uma das formas mais eficientes na redução dos sintomas. Com ela é possível diminuir a frequência, intensidade e duração da enxaqueca. 

“A cirurgia da enxaqueca, definida como a descompressão dos nervos periféricos, uma ‘desativação’ nos pontos de gatilho, é uma estratégia de tratamento relativamente nova, mas altamente respaldada pela ciência, para enxaquecas crômicas e refratárias”, explica o cirurgião plástico Dr. Paolo Rubez.

Além de melhorar os sintomas, a cirurgia da enxaqueca também reduz significativamente o uso de medicamentos. É o que mostra um estudo da Harvard Medical School. A redução se mostrou principalmente em casos onde os pacientes sofrem com dores crônicas e debilitantes.

“A cirurgia é pouco invasiva e tem o objetivo de descomprimir e liberar os ramos dos nervos trigêmeo e occipital envolvidos nos pontos de dor”, explica o médico. “Os ramos periféricos destes nervos, responsáveis pela sensibilidade da face, pescoço e couro cabeludo, podem sofrer compressão das estruturas ao seu redor, como músculos, vasos, ossos e fáscias. Isso gera a liberação de substâncias (neurotoxinas) que desencadeiam uma cascata de eventos responsável pela inflamação dos nervos e membranas ao redor do cérebro, que irão causar os sintomas de dor intensa, náuseas, vômitos e sensibilidade à luz e ao som”, completa.

A enxaqueca é composta por quatro fases e existe uma cirurgia que pode aliviar os sintomas (Imagem: tommaso79/iStock)

A cirurgia é permitida no Brasil?

O Conselho Nacional de Medicina não proíbe a realização da cirurgia da enxaqueca. No entanto, ela não é recomendada por alguns neurologistas. A Sociedade Brasileira de Cefaleia e a Academia Brasileira de Neurologia, consultadas pelo Portal Drauzio Varella, não recomendam a realização do procedimento. Isso se deve ao fato de que ela não é a cura para a enxaqueca, apenas diminui seus sintomas. Outro fator apontado pelos entrevistados é que a cirurgia de enxaqueca não é realizada pelo SUS e pode ter um custo alto.

Como é feita a cirurgia

De acordo com o Dr. Paolo Rubez, a cirurgia de enxaqueca é realizada por diversos grupos de cirurgiões plásticos ao redor do mundo. Bem como por mais de uma dezena das principais universidades americanas, como Harvard. 

“Os resultados positivos e semelhantes das publicações dos diferentes grupos comprovam a eficácia e a reprodutibilidade do tratamento”, afirma o médico.

De acordo com o especialista, a cirurgia age na descompressão dos nervos que causam a dor. Elas podem ser de sete tipos diferentes, nas seguintes regiões: frontal, rinogênico, temporal e occipital (nuca). Para cada um dos tipos, há acessos diferentes para tratamento. Todos, no entanto, são em áreas superficiais da face, couro cabeludo ou na cavidade nasal.

Para realizar a cirurgia é preciso que o paciente tenha um diagnóstico dado por um neurologista. Além de episódios com frequência de duas vezes ao mês, que não sejam controláveis com medicação. 

Pacientes que sofrem com efeitos colaterais ou intolerâncias aos medicamentos também podem realizar a cirurgia. Bem como em pacientes que sofrem grandes comprometimentos, por conta das dores, em sua vida pessoal ou profissional.


Atenção:
Para ter o diagnóstico correto dos seus sintomas e fazer um tratamento eficaz e seguro, procure orientações de um médico.