Inflamações crônicas e desequilíbrio: um ciclo vicioso

As inflamações crônicas podem ocorrer devido ao tratamento inadequado de uma inflamação, causas externas ou erro do sistema imunológico.

Douglas Ferreira | 29 de Setembro de 2021 às 15:00

demaerre/iStock -

Inflamações são uma reação do sistema imunológico às ameaças externas. Em geral, quando o organismo detecta um problema em potencial – digamos, uma infecção viral –, libera substâncias químicas a fim de isolar e destruir o vírus. Ao sentir que o problema foi resolvido, o sistema imunológico disponibiliza substâncias químicas anti-inflamatórias para desativar quaisquer reações inflamatórias.

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Se a infecção, porém, não for erradicada ou se surgir com frequência, a inflamação pode se tornar crônica. As inflamações crônicas também ocorrem quando o sistema imunológico comete um erro, atacando substâncias inocentes como alimentos (no caso de alergias alimentares) ou não compreendendo as pistas de que as ameaças não são reais (como no estresse crônico). Então, o que poderia contribuir para as inflamações crônicas? Veja abaixo algumas causa!

1. Infecções repetidas e exposição contínua a toxinas ambientais

Infecções repetidas causadas por bactérias “não amigas”, vírus ou parasitas podem desencadear uma reação inflamatória prejudicial. Exposição contínua a toxinas ambientais como mercúrio, chumbo ou fumo também são uma ameaça.

2. Estresse crônico

O estresse eleva os níveis do hormônio cortisol, que costuma ajudar a desativar a reação inflamatória. Em estudos da Universidade Carnegie Mellon, na Pensilvânia, adultos saudáveis foram expostos a um vírus de resfriado. Aqueles que vivenciavam mais estresse tiveram menos condições de deter a reação inflamatória. O organismo se tornara insensível ao cortisol, de modo que as células imunológicas ignoravam suas mensagens de cessar as inflamações. Essas pessoas produziam mais citocinas, os mensageiros químicos nas células que disparam as inflamações, sendo bastante propensas a desenvolver os sintomas de um resfriado.

Os níveis elevados de cortisol também interferem na eficácia da insulina, o hormônio responsável por informar
às células o momento de coletar o açúcar da corrente sanguínea. Isso significa que o açúcar não chega às células que dele necessitam. Assim, as células enviam sinais ao cérebro de que estão famintas. Em seguida, o cérebro libera hormônios, incluindo a leptina, que fazem você ter aquela ânsia por doces e alimentos gordurosos, os consuma em excesso e ganhe peso.

3. Aumento do peso

O ganho de peso, por sua vez, leva a outras inflamações. Um nível elevado de cortisol gera aumento de gordura visceral, pois realoca a gordura da corrente sanguínea e a deposita na área abdominal. De acordo com um estudo feito em 2013 por pesquisadores do Hospital Metodista de Houston, no Texas, quanto maior a quantidade de gordura na barriga, mais leptina você libera. Isso estimula a produção de um grupo de proteínas que costuma aparecer somente quando há uma infecção bacteriana ou viral. Quando as células imunológicas a detectam, aumentam a reação inflamatória. 

4. Micróbios intestinais

Micróbios intestinais também podem afetar diretamente as inflamações. Em um estudo europeu publicado no periódico Diabetes, pesquisadores usaram em camundongos tratamentos à base de antibióticos para manipular a microbiota intestinal, reduzindo significativamente o número de bactérias nocivas. O resultado foi um equilíbrio mais favorável da flora intestinal e, em alguns dos camundongos, a redução da endotoxemia metabólica, uma condição inflamatória. Estes ainda ganharam menos peso.

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5. Alimentação

A alimentação, no entanto, é de longe a maior causa de inflamações crônicas. Descobriu-se que as gorduras saturadas, encontradas em carnes vermelhas e laticínios, promovem inflamações no tecido adiposo. O consumo de gorduras trans (ingrediente comum em margarinas, gorduras vegetais, produtos de panificação e confeitaria e alimentos fritos de restaurante fast-food) também está correlacionado às doenças inflamatórias. Pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Harvard analisaram dados de um estudo de longa duração – Nurses’ Health Study (Estudo de Saúde das Enfermeiras) – e comprovaram que as mulheres que consumiam alimentos com mais ácidos graxos trans apresentavam marcadores mais elevados de inflamações celulares sistêmicas.

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Os ácidos graxos ômega-6, outro tipo de gordura, encontram-se tão associados às inflamações que são usados como marcadores para inflamações em exames de sangue. Um estudo do Centro de Genética, Nutrição e Saúde, em Washington, observa que a dieta de nossos ancestrais continha quantidades iguais de ácidos graxos ômega-3 e ômega-6. No entanto, agora consumimos 16 vezes mais ácidos graxos ômega-6 do que ômega-3. Esse mesmo estudo demonstrou que taxas menores de ácidos graxos ômega-6, em relação aos ômega-3, proporcionavam efeitos benéficos às pessoas com doenças inflamatórias diversas, desde doença cardiovascular até artrite reumatoide, câncer colorretal e de mama.

De forma inversa, alimentos com alto teor de fibras podem amenizar inflamações, assim como frutas, verduras e legumes coloridos, ricos em antioxidantes, além de outras vitaminas e minerais. Enquanto gorduras dietéticas, fibras e antioxidantes apresentam efeitos bem determinados sobre as inflamações, o papel de outros nutrientes ainda está sendo estudado. Por exemplo, é provável que os FODMAPs resultem em inflamações crônicas. Alimentos processados e carboidratos refinados também são suspeitos, mas só recentemente uma nova teoria explicou o que talvez seja a causa: a densidade (concentração) de carboidratos.