A peregrinação até o diagnóstico de endocardite

Conheça a história de um operário que sofria com dores nas costas até ter o diagnóstico de endocardite, uma rara infecção no coração.

Redação | 20 de Janeiro de 2019 às 19:00

seb_ra/iStock -

Conheça a história de Brett (nome trocado para proteger a privacidade), um operário de 52 anos que sofreu com uma dor nas costas incapacitante e emagrecimento inexplicável até ter o diagnóstico de endocardite, uma rara infecção no coração:

Tudo começou com uma dor forte nas costas no fim de 2014.

A princípio, Brett achou que era um efeito colateral do trabalho pesado numa fábrica de automóveis. Mas, duas semanas depois, como a dor piorou, ele foi ao médico de família de Brampton, Ontário, no Canadá, que o encaminhou a um médico da Diretoria de Segurança no Trabalho. O médico confirmou as suspeitas de Brett; ele estava envelhecendo e levantando muito peso. Foi orientado a repousar e tomar analgésicos.

Mas Brett começou a emagrecer, e a dor nas costas piorou. Outro clínico geral o encaminhou a um ortopedista. As radiografias nada revelaram, e Brett foi mandado para casa com mais remédios.

Nisso, três meses já tinham se passado, e a dor era tão forte que ele não conseguia mais trabalhar.

Ele experimentou um terceiro médico, que encontrou sangue na urina de Brett e o encaminhou a um nefrologista. O médico pediu uma citoscopia (na qual uma câmera é inserida na uretra até a bexiga em busca de tumores), mas o resultado foi negativo.

No entanto veio positivo o exame de IgA, doença relativamente benigna que acontece quando o anti-corpo imunoglobulina A se aloja no rim, provoca inflamação e, em alguns casos, sangue na urina. O médico disse a Brett que controlasse a pressão e reduzisse o colesterol, o que ajudaria a proteger o rim e desacelerar o avanço da doença, que não pode ser curada. Mas a IgA não explicava a dor nas costas.

Agora com seis meses de sofrimento, Brett mal conseguia andar.

Também suava profusamente e pe dera quase 15 quilos. Nisso, um de seus dedos ficou preto.

Brett, então, procurou um quarto médico, que o mandou ao Toronto Western Hospital consultar o Dr. Herbert Ho Ping Kong, famoso pelo talento em acertar diagnósticos difíceis. “Ah, se alguém tivesse auscultado seu coração!”, diz o Dr. Ho Ping Kong. Em dois minutos, o médico diagnosticou a endocardite subaguda de Brett. “Ele morreria em três semanas”, explica o Dr. Ho Ping Kong, que vê um caso desses de dois em dois anos; estima-se que duas a seis de cada 100 mil pessoas tenham a doença.

A endocardite é uma infecção do revestimento interno do coração que afeta indivíduos com válvulas cardíacas doentes ou lesionadas, como os que nasceram com defeitos congênitos. (O médico desconfia que Brett teve cardite reumática.) As bactérias da corrente sanguínea chegam ao coração e aderem à área lesionada, provocando sintomas como dor muscular grave, suores, emagrecimento e sangue na urina.

Dado o histórico e os sintomas do paciente, o Dr. Ho Ping Kong soube, assim que ouviu o sopro no coração, que era endocardite – e que tinham de agir depressa.

O dedo enegrecido era sinal de embolia séptica: o tecido infeccionado se soltara da válvula cardíaca e se abrigara na artéria do dedo. “Era uma emergência”, diz o Dr. Ho Ping Kong.

“Outros pedaços poderiam se soltar e ir para as pernas, o rim ou o cérebro e provocar um AVC.” 

Na semana seguinte, o paciente recebeu antibióticos e operou o coração para substituir a válvula e impedir a insuficiência cardíaca.

Como o dano era extenso, ele também precisou de um marca-passo. Embora não pudesse mais levantar tanto peso quanto antes, dali a dois meses Brett voltou a trabalhar sem dor. “Há alguns casos em que o diagnóstico clínico é tão bom quanto uma ressonância ou tomografia”, diz o Dr. Ho Ping Kong.

“É aquela combinação de ter o histórico clínico completo e fazer um exame físico minucioso… e é preciso sempre auscultar o coração.”

Por SYDNEY LONEY