Vírus da Covid-19 pode afetar os espermatozóides e causar infertilidade? Entenda

Estudo da USP aponta que o vírus da Covid-19 pode ter impactos significativos na qualidade dos espermatozóides, podendo provocar um aumento na infertilidade masculina.

Luana Viard | 3 de Junho de 2024 às 14:00

Vamos te explicar se o vírus da Covid-19 pode causar danos na fertilidade masculina. - Visions / istock

Com a chegada de junho e a contínua batalha contra a Covid-19, uma questão preocupante tem ganhado destaque: o vírus pode afetar os espermatozoides e causar infertilidade masculina? Diversos estudos recentes sugerem que a infecção pelo SARS-CoV-2, o vírus responsável pela Covid-19, pode ter impactos significativos na saúde reprodutiva masculina.

Desde o início de 2020, ao monitorar pacientes masculinos que contraíram Covid-19, o andrologista Jorge Hallak, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), notou que os exames de fertilidade e hormonais desses pacientes continuam apresentando alterações significativas por muitos meses após a recuperação da doença.

O vírus da Covid-19 pode impactar na fertilidade?

“Temos visto, cada vez mais, alterações prolongadas na qualidade do sêmen e dos hormônios de pacientes que tiveram Covid-19, mesmo naqueles que apresentaram quadro leve ou assintomático”, esclareceu Hallak à Agência FAPESP.

Estudos recentes conduzidos pelo pesquisador, em parceria com colegas do Departamento de Patologia da FM-USP, têm sido publicados nos últimos meses e ajudado a esclarecer essas observações feitas na prática clínica

O vírus da Covid-19 causa alguma diferença nos testículos?

Os pesquisadores descobriram que o SARS-CoV-2 também atinge os testículos, comprometendo a capacidade das gônadas masculinas de gerar espermatozoides e hormônios.

“É muito preocupante como o novo coronavírus afeta os testículos, mesmo nos casos assintomáticos ou pouco sintomáticos da doença. Entre todos os agentes prejudiciais aos testículos que estudei até hoje, o SARS-CoV-2 parece ser muito atuante”, afirma Hallak. “Cada patologia tem particularidades que a prática e a experiência nos demonstram. O SARS-CoV-2 tem a característica de afetar a espermatogênese de formas que estamos descobrindo agora, como motilidade progressiva persistentemente muito baixa, sem alteração da concentração espermática significativa.”

Como foi feito o estudo?

Em uma pesquisa envolvendo 26 pacientes que contraíram Covid-19, os pesquisadores descobriram através de exames de ultrassom que mais da metade deles apresenta inflamação severa no epidídimo, estrutura responsável pelo armazenamento dos espermatozoides e onde eles desenvolvem a capacidade de locomoção.

Com idade média de 33 anos, os pacientes são atendidos no Hospital das Clínicas da FM-USP e no Instituto Androscience. Os achados da pesquisa, que contou com o apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), foram divulgados na revista Andrology.

“Ao contrário de uma infecção bacteriana clássica ou por outros vírus, como o da caxumba, que causa inchaço e dor nos testículos em um terço dos acometidos, a epididimite causada pelo novo coronavírus é indolor e não é possível de ser diagnosticada por apalpamento [exame físico] ou a olho nu”, explicou Hallak.

Afinal, o vírus da Covid-19 pode causar infertilidade?

O pesquisador prevê que a Covid-19 poderá provocar um aumento na infertilidade masculina. Hoje, entre 15% e 18% dos casais enfrentam dificuldades para conceber, sendo que em 52% dos casos isso se deve a problemas masculinos.

Esse cenário pode levar a um aumento na procura por técnicas de reprodução assistida. Segundo ele, no Brasil, esses procedimentos são frequentemente realizados de forma precipitada para causas masculinas, sem uma avaliação inicial adequada e padronizada.

Muitas vezes, não se estabelece o diagnóstico inicial, nem se propõem condutas baseadas em custo-benefício ou tratamentos específicos que possam curar a causa ou restabelecer a capacidade fértil natural.

“Será preciso tomar muito cuidado com a reprodução assistida pós-pandemia de Covid-19, pois não se sabe as consequências disso nos meses subsequentes à infecção”, ressalta Hallak.

As informações são do Governo do Estado de São Paulo

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